Ouve-se ópera nas ruas da Horta da Mitr
March 03, 2014 12:45:59
Artes Performativas
2014.03.03 ponto final
Festival do Duplo 2, em honra do deus da Terra, anima bairro até 5 de Março.
Qualquer sinal serve desde que o lugar fique reservado. Há quem prenda sacos de plástico aos bancos com fios; há quem o faça com caixas de ovos vazias e até os que trazem almofadas de casa para forrar as cadeiras. Depois há os que nem para comer largam o local – às 17h50 de ontem estavam 20 pessoas em frente ao palco na rua Tomás da Rosa, no bairro da Horta da Mitra (Cheoc Chai Un), a jantar. O espectáculo de ópera só começava às 19h45.
“Aquela senhora de roxo está cá desde manhã até à noite [para ver as duas peças diárias]. Todas as cadeiras estão reservadas, vê? Deus do céu. Eles ficam até ao fim da peça, vão para casa, mas há pessoas que controlam as cadeiras à noite”. Elsie é dona do Star Hub Cheng Kee Café que está em frente do palco montado na rua. Tem uma vista privilegiada sobre a audiência das diferentes peças de Ópera Yue, da província de Guangdong, trazidas por uma companhia de fora de Macau.
Esta agitação para ver os espectáculos é assim há mais de 30 anos, desde que se comemora aqui o Festival do Duplo 2 em honra de Tou Tei, o deus que governa a Terra e a quem se roga por terrenos férteis. Apesar de ter havido interrupções, por norma celebra-se no segundo dia do segundo mês lunar e dura cinco dias. Durante esse período o templo da Felicidade e Virtude (Fok Tak Chi) é o actor principal – é junto dele que está o palco.
Às 20 horas começa o espectáculo e o burburinho das mais de cem pessoas cala-se para ouvir os dramas imperiais. Há duas peças diárias (14h e 20h) e para um universitário de Macau que recolhe imagens para um trabalho, é uma estreia. Percebe-se: a julgar pela plateia este é um programa para os seus avós. Elsie também não viria. Quando o PONTO FINAL lhe pergunta se gosta de ópera diz logo: “Não”. E ri. “Sou de Singapura, não sou local. Vejo porque é grátis”. P.S.A.