Blogues

Tradução e marketing de histórias: técnicas-chave na era de novos média

01/03/2021

O que é que fazem as pessoas da Dinastia do Norte quando não estão contentes? Vão para a rua construir estátuas do Buda para obter conforto. E sabe que os escritores da Dinastia Ming também gostam de escrever textos sobre as suas viagens em modo de check-in só para se exibirem?

 

A era de novos média resultou na divulgação de uma leitura fragmentada e de versões reduzidas de textos, mas podem os textos na internet ser apenas curtos e leves? Vendo isso, muito autores tentam converter grandes obras académicas, através de plataformas de comunicação social na internet, em artigos acessíveis, como se se tratasse de transformar publicações aborrecidas que mais parecem tijolos em bolos saborosos, com vista a cultivar uma multidão mais vasta de leitores.

 

Tradução: transformar tijolos em bolos

Tradução é exactamente uma maneira de “History Re-told”, que traduz informações hipnóticas ou confusas em frases mais fáceis de compreender pelo público.

 

A escrita criativa de não-ficção (creative non-fiction) traduzida não inclui necessariamente novas descobertas ou perspectivas acutilantes, o seu ponto-chave é, pelo contrário, a capacidade de compilação de informações e a publicidade de histórias. Desde a recolha de informações, a análise de tópicos, o projecto de temáticas, o aparecimento de ideias criativas e a escrita feita, até à comercialização e à publicidade, às capacidades de edição, escrita e execução, todas as tarefas são indispensáveis. A leitura atenta e a compreensão das publicações são apenas o primeiro passo da tradução. Com o uso de técnicas literárias, fazer a narrativa mais criativa e quase não-ficcional dos factos pode demonstrar, de maneira mais viva, os diversos pontos de vista e evitar ficções que se afastem da história real. Quantas mais informações históricas, mais verdades são expressas.

 

A fim de chegar à veracidade da história, atrair os olhares da sociedade e manter o estilo literário, os textos digitalizados têm que ser escritos de maneira a definir uma propriedade intelectual, seja ao criar personagens, pensar do ponto de vista do leitor ou manter a sensibilidade numa espécie de escrita defensiva, especialmente quando envolve ocorrências e conflitos. Seja para procurar o cosmopolitismo enraizado (rooted cosmopolitanism), seja para procurar a simples narrativa local ou para meramente compilar notícias, não se pode seguir cegamente as visualizações, é necessário esclarecer previamente a sua visão e predefinir os seus leitores.

 

Marketing de histórias: escrever com o objectivo de definir uma propriedade intelectual

A construção e a divulgação mais avançadas da digitalização de histórias nas zonas de língua chinesa vêm de Taiwan, onde os projectos são merecedores de aplausos, e criam todos os dias textos muito bons com conteúdo fecundo e útil, dando autênticas aulas públicas de humanidade que até os idosos conseguem compreender.

 

Nos últimos anos, Taiwan tem-se esforçado por criar novos média dedicados aos conhecimentos humanísticos, promovendo a recolha de memórias locais e a escrita interdisciplinar sobre a história; até as instituições de letras começam a fazer igual, como é o caso do projecto da Academia Sinica “Research Yowu”, que transformou conhecimentos académicos pesados em histórias de bolso engraçadas, atraindo os olhares do público por ter essa contradição interessante, e o do Museu Nacional de Literatura de Taiwan, que promoveu a sua marca “Redescobrir a colecção: sobre a literatura de Taiwan” que fala aprofundadamente sobre histórias de objectos de colecção, o que aumentou indirectamente as visualizações de produtos relativos à criação cultural e actualizou o seu sentido.

 

Quem melhor usa os novos média para demonstrar a força da tradução são certamente as equipas privadas de “histórias”. A equipa “Contos: uma história escrita para todos”, fundada em 2014, tendo como lema “conhecer o passado, imaginar o futuro, traçar o contorno do mundo”, desenvolveu várias tentativas de introdução histórica e publicou, até agora, mais de 2.000 textos sobre a história local e do estrangeiro, tais como o texto “uma introdução curta cor-de-rosa” que tratou da consciencialização dos dois sexos, e o projecto com a temática “preservar a memória de Hong Kong”, entre outros. A equipa tem um milhão de visualizações por mês, criou o sistema de membro pago, publicou livros e organizou actividades presenciais; além disso, também lançou várias marcas específicas, como “falar sobre livros” e “suplementos”, entre outras. Então, quem pode dizer que não há ninguém que leia um texto com mais de mil palavras?

 

A tentativa de Macau

Macau, que pretende criar a “cidade intelectual”, também está a desenvolver-se com rapidez. A Fundação Macau promoveu o site “Memória de Macau” em 2019, que se dedica à recolha e disponibilização de materiais históricos e culturais de Macau. Apesar de ter começado tarde, a sua gestão é bastante boa, e tem publicações que integram conhecimentos e diversão, como textos sobre como é o “Mónaco da China” na escrita da nobreza francesa do século XIX e sobre as ruas e os mercados de Macau. Embora tenha como lema “apreciar o presente e o passado consigo”, a marca conta com um conteúdo que continua a basear-se em histórias locais; já o tema mais vasto de ver o mundo a partir de Macau está, ainda, à espera de ser promovido.

 

Não se esqueça que estamos numa era em que as vozes do público são cada vez mais discrepantes e que é melhor os autores não terem a ilusão de que a sua escrita pode contentar todas as pessoas na internet. Às vezes, a escrita humanística relaxante e interessante considera-se como algo frívolo. No entanto, se quiser estabelecer-se no mundo digital em que as informações se espalham por todos os lados, tem que possuir, pelo menos, duas técnicas cruciais: uma é a da tradução, que tem grande energia e pode levar a mudanças completas; a outra é a do marketing de histórias, que pode conquistar qualquer campo de forma concisa e forte.

 

Vista principal do website do projecto “Research Yowu” da Academia Sinica, em que as três imagens são os símbolos dos três campos de investigação: o da ciência, da matemática e da física; o da ciência da vida; e o das humanidades e da sociedade. “Research Yowu” faz a ponte entre eles.
Vista principal do website do projecto “Research Yowu” da Academia Sinica, em que as três imagens são os símbolos dos três campos de investigação: o da ciência, da matemática e da física; o da ciência da vida; e o das humanidades e da sociedade. “Research Yowu” faz a ponte entre eles.

Artigos relevantes