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Livros em segunda mão numa a época de déjà vu

01/02/2021

A última vez que escrevi uma coluna de jornal ou de revista foi há já cinco ou seis anos...Escrevi cerca de quatro ou cinco na última década, de tamanhos diferentes, bem como eram igualmente diferentes os temas que abordei de cada vez. Como o tema do turismo, da comida e do vinho, que conheço melhor e domino bem, escrevi muito mais quando fiz menos esforço; mas nunca teria adivinhado que a minha primeira coluna seria, na verdade, sobre géneros sexuais....Olhando para trás, esta coluna é, de certa forma, o marco da minha história de desenvolvimento pessoal, e cada frase que parece escrita por acaso reflecte o ponto de vista da mundividência do autor. Em 2021, graças ao convite da Revista C2, tenho esta nova coluna. Desta vez, em vez daqueles temas, gostaria de falar sobre o meu campo de trabalho: algumas notas sobre publicação, livros e letras.

 

Vamos começar por um tema que me interessa muito: a protecção ambiental e a troca em segunda mão! Em função do crescimento da internet, os objectos em segunda mão não se limitam ao âmbito da transacção em lojas físicas. Nos últimos anos, tem havido um aumento do número de aplicativos de reciclagem em segunda mão, que não só têm peritos profissionais para verificar a qualidade, mas também asseguram que após o procedimento de reparação, desinfecção, limpeza e reembalagem, as mercadorias em segunda mão podem chegar às mãos dos clientes a horas; ao mesmo tempo, os vendedores não precisam de se preocupar em não receber o seu dinheiro. Está já provado que quanto mais desenvolvida for a economia de um país ou de uma região, mais próspero será o seu mercado de negócio em segunda mão, e o Japão é um bom exemplo disso.

 

E os livros em segunda mão? A impressão de muitas pessoas sobre os livros em segunda mão cinge-se ainda ao BookCrossing ou àquelas livrarias de antiguidades um pouco envelhecidas em que os livros ficam como “tesouros” à espera de serem descobertos por “garimpeiros de ouro” com olhar perspicaz. Mas, nos últimos anos, pela injecção de grandes capitais, a plataforma de negócio de livros em segunda mão no Interior da China sofreu mudanças radicais. O que mais me chocou foi um vídeo publicado por uma plataforma bastante popular de transacção de livros em segunda mão, a “Duozhuayu”, na sua conta de WeChat: parece mostrar uma fábrica enorme a renovar, verificar e reproduzir livros, e o seu complexo e requintado procedimento não tem assim tantas diferenças daquele de um produto de luxo. Cada livro que aguarda o seu novo dono adquire lá um “respeito integral”.

 

“Duozhuayu” é um nome apelativo que vem da expressão francesa “Déjà vu” e que significa uma sensação de “parecer já ter visto antes algo desconhecido”. Usado para descrever o processo de um livro a ser redescoberto e revendido, este termo romântico identifica-se definitivamente com o gosto dos jovens hipsters. E quais são as características dos jovens hipsters? O estereótipo é que eles gastam mais em consumo cultural do que sabem propriamente sobre ganhar dinheiro e economizar...Mas o fundador de “Duozhuayu”, Maozhu, não é um tipo assim. Renomado por vender uma espécie de nostalgia artística, “Duozhuayu” tem, na verdade, um modelo comercial bastante sólido. Esta plataforma capturou a tendência mental de “vender para alimentar” dos jovens hipsters e acabou por receber o financiamento de vários investidores de risco, tendo, inclusive, crescido muito durante o período da epidemia. Em 2020, “Duozhuayu” abriu as suas duas lojas físicas, em Pequim e em Xangai, que se tornaram num novo local de check-in e de compra para os jovens hipsters.

 

Não vou falar aqui detalhadamente sobre como comprar livros em segunda mão em “Duozhuayu”; se tiver interesse, pode pesquisá-lo no WeChat e experimentá-lo por si próprio, pois apenas poderá desfrutar verdadeiramente dele por experiência própria. O que eu gostaria de abordar com o caso desta plataforma é saber se os jovens hipsters conseguem avaliar se a sua ideia de empreender um negócio vale ou não a pena. Muitos dizem que a actual plataforma empresarial visa resolver a questão da assimetria de informações. Portanto, no início do empreendimento do negócio baseado na criação cultural, o fundador da empresa deve primeiro perguntar-se sobre qual é a questão da assimetria que quer resolver. Na palestra organizada pela plataforma de vídeo “YiXi”, Maozhu disse que a questão que ela estava a resolver era o desejo ansioso dos jovens hipsters de comprarem livros originais limpos, sem cheiro e a um preço mais baixo (as livrarias tradicionais em segunda mão têm um cheiro “intenso”, o que foi confirmado pela cuidadosa Maozhu). Visando essas necessidades, ela pensou em usar uma máquina de ozono para desinfectar os livros antigos durante uma hora, contratar peritos para verificarem a autenticidade dos livros e estipular preços razoáveis, resolvendo dessa forma, de imediato, a questão da assimetria. Foi assim que “Duozhuayu” criou um fosso com as plataformas tradicionais de negócio de livros em segunda mão, e mais tarde, houve até muitos escritores famosos que o endossaram voluntariamente; alguns livros que não eram respeitados no passado agora entraram na lista de livros mais vendidos de “Duozhuayu”...

 

Muitas pessoas acham que a publicação de livros é já uma indústria em decadência, mas o surgimento da plataforma de negócio de livros em segunda mão com o modelo de gestão vertical C2B2C, como “Duozhuayu”, faz com que os autores e os editores tenham mais confiança. Embora não ganhem mais lucros nesta plataforma, os livros com conteúdo de qualidade podem ser redescobertos. Expor-se numa plataforma assim é, de certa forma, um meio de publicidade gratuita.

 

Estou ansioso por ver, num futuro próximo, publicações de Macau a aparecerem na plataforma de “Duozhuayu” , e espero vê-las na lista dos livros mais vendidos.

 

Os livros que comprei em “Duozhuayu” com um desconto de 70% estão todos muito novos, e foram embrulhados com película adesiva e em caixas de papel ecológicas e biodegradáveis. Do início ao fim, o conceito de reciclagem é consistente.
Os livros que comprei em “Duozhuayu” com um desconto de 70% estão todos muito novos, e foram embrulhados com película adesiva e em caixas de papel ecológicas e biodegradáveis. Do início ao fim, o conceito de reciclagem é consistente.

 

A fábrica de “Duozhuayu” (Fonte: “Duozhuayu”)
A fábrica de “Duozhuayu” (Fonte: “Duozhuayu”)

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