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Suzuki Cheng: A coragem e a força da perfuração “solo acima

01/03/2021

Texto/Sara Lo
Fotografias/Cora Si, e parcialmente fornecidas pelas entrevistadas

 

A utilização de “mulheres” como tema de discussão não é novidade hoje em dia, mas ainda há sempre espaço para progressos em termos da igualdade de género. Em todo o mundo, mesmo que não haja discriminação ou injustiça gritante, existe uma grande hipótese de que as palavras e as acções possam revelar acidentalmente ideologias profundamente enraizadas. O último caso mais mediático e discutido é o do antigo presidente do Comité Olímpico de Tóquio, que acabou por cair em desgraça e demitir-se devido aos seus comentários desrespeitosos para com as mulheres.

 

Desde o estabelecimento do Dia Internacional da Mulher há mais de um século, os movimentos e as iniciativas para a promoção da igualdade de género e do empoderamento das mulheres têm surgido em todo o mundo, e o verdadeiro progresso no pensamento deve vir do respeito e da apreciação por cada indivíduo, em vez de preconceitos e estereótipos baseados no género. Nesta edição de “Destaque”, entrevistámos três mulheres, que são, respectivamente, uma criadora, uma artista e uma empreendedora com personalidades e especialidades diferentes, trabalhando arduamente nos seus próprios campos com os seus temperamentos únicos. Na véspera de mais um Dia da Mulher, vamos dar uma vista de olhos a estes rostos bonitos e confiantes.

 

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Suzuki Cheng: A coragem e a força da perfuração “solo acima

Quando se pediu a Suzuki para ser entrevistada, disse que se queria encontrar num lugar perto do seu dia-a-dia. Sem nenhuma hesitação, escolheu uma cafetaria perto da sua casa. “Como o meu escritório de trabalho fica em Kuala Lumpur, sempre que volto a Macau, faço o meu check-in todos os dias à hora do café, para ouvir as conversas dos vizinhos, para falar com os clientes, para compreender o que pensa realmente o povo de Macau e para trocar informações”. Através das suas próprias palavras, Suzuki já delineou o seu estilo de vida e a sua personalidade nos últimos anos: viaja entre Kuala Lumpur e Macau e não se importa de falar com desconhecidos. Ao vermo-la em pessoa, diz: “Devias sentir que eu gosto de falar com as pessoas”, o que é verdade, e quando aplicada à sua filosofia de trabalho, esta habilidade parece ser bastante necessária.

 

Suzuki é produtora, produtora executiva e actriz. Há dez anos, foi sozinha de Macau para a Malásia e hoje tem a sua própria empresa de produção em ambos os locais. Tem a sua própria experiência em marketing, operação, produção de programas e procura de oportunidades de negócio. Uma das razões pelas quais decidiu mudar-se para um país estrangeiro foi porque temia que a falta de elementos inspiradores e de subsídios em Macau afectasse as suas escolhas criativas, por isso atirou-se para um ambiente completamente novo. Com os contactos com grupos de espectáculos fora de Macau que tinha ganho com o seu trabalho a tempo parcial numa companhia de teatro na faculdade, começou a trabalhar numa companhia de teatro naquele país estrangeiro. Com a sua sensibilidade e o seu talento para os negócios, bem como o seu interesse e a sua visão para dirigir uma companhia de teatro, começou por ensinar “produção de teatro empresarial” na universidade e depois desenvolveu o seu próprio espaço de produção.

 

Desde ter ido à Malásia sozinha até ter obtido o seu próprio lugar na indústria, a diligência e a visão empresarial de Suzuki são ambos factores essenciais do seu sucesso.    Foto cedida por Cora Si
Desde ter ido à Malásia sozinha até ter obtido o seu próprio lugar na indústria, a diligência e a visão empresarial de Suzuki são ambos factores essenciais do seu sucesso. Foto cedida por Cora Si

 

Modelo de privilégio comercial na gestão da companhia de teatro
Suzuki deixou Macau numa altura em que o governo estava a aumentar todos os tipos de financiamento cultural. Em comparação com o seu trabalho árduo na Malásia, ela sorri, dizendo que foi um trabalho que “exigiu empregar uma grande força como se estivesse a perfurar solo acima”, e é por isso que desenvolveu uma campanha publicitária eficaz, uma vez que as receitas das bilheteiras são a maior fonte de financiamento numa operação totalmente comercial. “A publicidade que gastei representa 30% do custo total de produção.”, diz. Em Macau, a forma de venda de bilhetes é relativamente simples, enquanto em Kuala Lumpur, Suzuki contratou promotores para fazer stands a vender bilhetes no local em centros comerciais ou supermercados; e se quiser vender um espectáculo com o tema de pais e filhos, convida as mães para os vender, a fim de entrar no mercado dos pais. Ao pessoal será pago uma comissão por cada bilhete vendido, e esta é uma forma eficaz de conseguir mais trabalho. Por outro lado, devido a questões de marketing e à atracção de patrocínios por parte dos clientes, Suzuki atribui, também, grande importância à popularidade das estrelas contratadas e ao número dos seus seguidores no Instagram, mais até do que às suas capacidades de representação.

 

Para ganhar mais receitas de bilheteira, Suzuki pensa em maneiras diferentes da venda de ingressos, inclusive abrir bancas em sítios movimentados, com o objectivo de fazer com que mais pessoas paguem ingressos e vão ao teatro.    Foto cedida pela entrevistada
Para ganhar mais receitas de bilheteira, Suzuki pensa em maneiras diferentes da venda de ingressos, inclusive abrir bancas em sítios movimentados, com o objectivo de fazer com que mais pessoas paguem ingressos e vão ao teatro. Foto cedida pela entrevistada

 

Muito antes de criar o seu próprio escritório e espaço artístico, era-lhe claro que a sua posição iria seguir o modelo comercial e atrair pessoas. Nessa altura, alugou um escritório numa área comercial com alguns outros grupos. Um terço da área de 1.800 metros quadrados era o espaço de escritório, e o resto era o espaço de teatro, que podia ser transformado, com algumas modificações, num espaço de espectáculos. “A renda é bastante elevada, mas é isso que atrai os compradores.” Encontrando-se numa área com um grande número de mulheres trabalhadoras de escritório, no segundo ano da sua estadia na Malásia, produziu uma peça de teatro de baixo orçamento, “The Bastard I loved”, que conjugava uma história de amor com uma história de fantasmas, e ganhou muitos prémios da indústria teatral local.

 

À medida que o seu negócio foi crescendo, as suas produções foram-se alargando, com dimensão cada vez maior, colaborando com marcas famosas de vinho, fazendo digressões por clubes nocturnos em todo o país, em que os espetáculos combinam a música, a multimédia e os elementos de teatro, o que resultou em estabelecer vários recordes para a sua companhia. O seu papel como produtora também lhe permitiu combinar diferentes recursos à sua volta para levar as artes performativas ao público. Uma vez, convidou actores coreanos, que tinham ido a Macau fazer uns espectáculos, a darem uma performance gratuita na Rua dos Ervanários, atraindo as crianças de famílias de baixos rendimentos a virem apreciar o espectáculo. As bebidas quentes e os balões foram patrocinados por uma cafetaria amiga, tornando a tarde acolhedora para todos os participantes, em que ambas as partes receberam extensos benefícios publicitários.

 

Suzuki tem aproveitado os recursos dos produtores e trazido as equipas de actores convidadas a Macau até a Rua dos Ervanários, para que actuassem de forma gratuita, beneficiando os adultos e as crianças da vizinhança.    Foto cedida pela entrevistada
Suzuki tem aproveitado os recursos dos produtores e trazido as equipas de actores convidadas a Macau até a Rua dos Ervanários, para que actuassem de forma gratuita, beneficiando os adultos e as crianças da vizinhança. Foto cedida pela entrevistada

 

Luta perpétua sob mal-entendido
Todavia, não é sem contratempos ou incidentes. Suzuki aponta que os pequenos teatros na Malásia tendem a adoptar uma gestão familiar, mas a sua personalidade enquanto empreendedora é mais voltada para os negócios, o que pode ter ofendido alguns colaboradores locais. Por outro lado, sendo uma mulher jovem e solteira vinda do exterior que conseguiu um certo sucesso num curto período de tempo, passou a ser retratada em mexericos como alguém que "faz negócios por baixo da mesa", o que a fez sentir que os seus esforços eram desvalorizados. Com o passar do tempo e a mudança das circunstâncias, hoje, durante a pandemia, Suzuki ainda não conseguiu voltar à Malásia, mas continua a manter as operações da empresa com parceiros locais através da internet. Em Macau, a sua criação e filmagem também nunca foram interrompidas, mantendo um diálogo intermitente entre Macau e a Malásia a vários níveis da cultura. Por detrás do seu sucesso, estão as suas lutas árduas e a dedicação de que os outros não se apercebem.

 

Mulher solteira, jovem e estrangeira, Suzuki foi rotulada por essas características.    Foto cedida pela entrevistada
Mulher solteira, jovem e estrangeira, Suzuki foi rotulada por essas características. Foto cedida pela entrevistada

 

Na Malásia, Suzuki e a sua equipa colaboraram com marcas de bebidas conhecidas e lançaram produções que combinaram música, dança, drama, arte multimédia e outros elementos diversificados, e que percorreram bares de todos os tamanhos pelo país inteiro, o que criou novas possibilidades para diversão em bares.    Foto cedida pela entrevistada
Na Malásia, Suzuki e a sua equipa colaboraram com marcas de bebidas conhecidas e lançaram produções que combinaram música, dança, drama, arte multimédia e outros elementos diversificados, e que percorreram bares de todos os tamanhos pelo país inteiro, o que criou novas possibilidades para diversão em bares. Foto cedida pela entrevistada

 

No que toca ao espaço de operação comercial da indústria do teatro em Macau, Suzuki considera que quem tem a vontade de fazer o negócio crescer precisa de, cumulativamente, ter uma mente aberta e de estabelecer contactos e que, só deste modo, se consegue oportunidades para sair de Macau. O comércio e a arte não são incompatíveis. Quando se pretende manter a qualidade artística, deve-se reconhecer que a gestão do teatro requer fundos. Em determinada medida, a comercialização é imprescindível, e as operações de marketing podem, justamente, ligar estes dois aspectos. No futuro, seguirá esta linha e criará o seu próprio modelo de teatro comercial.

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