Texto/Sara Lo
Fotografias/Cora Si, e parcialmente fornecidas pelas entrevistadas
A utilização de “mulheres” como tema de discussão não é novidade hoje em dia, mas ainda há sempre espaço para progressos em termos da igualdade de género. Em todo o mundo, mesmo que não haja discriminação ou injustiça gritante, existe uma grande hipótese de que as palavras e as acções possam revelar acidentalmente ideologias profundamente enraizadas. O último caso mais mediático e discutido é o do antigo presidente do Comité Olímpico de Tóquio, que acabou por cair em desgraça e demitir-se devido aos seus comentários desrespeitosos para com as mulheres.
Desde o estabelecimento do Dia Internacional da Mulher há mais de um século, os movimentos e as iniciativas para a promoção da igualdade de género e do empoderamento das mulheres têm surgido em todo o mundo, e o verdadeiro progresso no pensamento deve vir do respeito e da apreciação por cada indivíduo, em vez de preconceitos e estereótipos baseados no género. Nesta edição de “Destaque”, entrevistámos três mulheres, que são, respectivamente, uma criadora, uma artista e uma empreendedora com personalidades e especialidades diferentes, trabalhando arduamente nos seus próprios campos com os seus temperamentos únicos. Na véspera de mais um Dia da Mulher, vamos dar uma vista de olhos a estes rostos bonitos e confiantes.
Suzuki Cheng: A coragem e a força da perfuração “solo acima
Quando se pediu a Suzuki para ser entrevistada, disse que se queria encontrar num lugar perto do seu dia-a-dia. Sem nenhuma hesitação, escolheu uma cafetaria perto da sua casa. “Como o meu escritório de trabalho fica em Kuala Lumpur, sempre que volto a Macau, faço o meu check-in todos os dias à hora do café, para ouvir as conversas dos vizinhos, para falar com os clientes, para compreender o que pensa realmente o povo de Macau e para trocar informações”. Através das suas próprias palavras, Suzuki já delineou o seu estilo de vida e a sua personalidade nos últimos anos: viaja entre Kuala Lumpur e Macau e não se importa de falar com desconhecidos. Ao vermo-la em pessoa, diz: “Devias sentir que eu gosto de falar com as pessoas”, o que é verdade, e quando aplicada à sua filosofia de trabalho, esta habilidade parece ser bastante necessária.
Suzuki é produtora, produtora executiva e actriz. Há dez anos, foi sozinha de Macau para a Malásia e hoje tem a sua própria empresa de produção em ambos os locais. Tem a sua própria experiência em marketing, operação, produção de programas e procura de oportunidades de negócio. Uma das razões pelas quais decidiu mudar-se para um país estrangeiro foi porque temia que a falta de elementos inspiradores e de subsídios em Macau afectasse as suas escolhas criativas, por isso atirou-se para um ambiente completamente novo. Com os contactos com grupos de espectáculos fora de Macau que tinha ganho com o seu trabalho a tempo parcial numa companhia de teatro na faculdade, começou a trabalhar numa companhia de teatro naquele país estrangeiro. Com a sua sensibilidade e o seu talento para os negócios, bem como o seu interesse e a sua visão para dirigir uma companhia de teatro, começou por ensinar “produção de teatro empresarial” na universidade e depois desenvolveu o seu próprio espaço de produção.
Modelo de privilégio comercial na gestão da companhia de teatro
Suzuki deixou Macau numa altura em que o governo estava a aumentar todos os tipos de financiamento cultural. Em comparação com o seu trabalho árduo na Malásia, ela sorri, dizendo que foi um trabalho que “exigiu empregar uma grande força como se estivesse a perfurar solo acima”, e é por isso que desenvolveu uma campanha publicitária eficaz, uma vez que as receitas das bilheteiras são a maior fonte de financiamento numa operação totalmente comercial. “A publicidade que gastei representa 30% do custo total de produção.”, diz. Em Macau, a forma de venda de bilhetes é relativamente simples, enquanto em Kuala Lumpur, Suzuki contratou promotores para fazer stands a vender bilhetes no local em centros comerciais ou supermercados; e se quiser vender um espectáculo com o tema de pais e filhos, convida as mães para os vender, a fim de entrar no mercado dos pais. Ao pessoal será pago uma comissão por cada bilhete vendido, e esta é uma forma eficaz de conseguir mais trabalho. Por outro lado, devido a questões de marketing e à atracção de patrocínios por parte dos clientes, Suzuki atribui, também, grande importância à popularidade das estrelas contratadas e ao número dos seus seguidores no Instagram, mais até do que às suas capacidades de representação.
Muito antes de criar o seu próprio escritório e espaço artístico, era-lhe claro que a sua posição iria seguir o modelo comercial e atrair pessoas. Nessa altura, alugou um escritório numa área comercial com alguns outros grupos. Um terço da área de 1.800 metros quadrados era o espaço de escritório, e o resto era o espaço de teatro, que podia ser transformado, com algumas modificações, num espaço de espectáculos. “A renda é bastante elevada, mas é isso que atrai os compradores.” Encontrando-se numa área com um grande número de mulheres trabalhadoras de escritório, no segundo ano da sua estadia na Malásia, produziu uma peça de teatro de baixo orçamento, “The Bastard I loved”, que conjugava uma história de amor com uma história de fantasmas, e ganhou muitos prémios da indústria teatral local.
À medida que o seu negócio foi crescendo, as suas produções foram-se alargando, com dimensão cada vez maior, colaborando com marcas famosas de vinho, fazendo digressões por clubes nocturnos em todo o país, em que os espetáculos combinam a música, a multimédia e os elementos de teatro, o que resultou em estabelecer vários recordes para a sua companhia. O seu papel como produtora também lhe permitiu combinar diferentes recursos à sua volta para levar as artes performativas ao público. Uma vez, convidou actores coreanos, que tinham ido a Macau fazer uns espectáculos, a darem uma performance gratuita na Rua dos Ervanários, atraindo as crianças de famílias de baixos rendimentos a virem apreciar o espectáculo. As bebidas quentes e os balões foram patrocinados por uma cafetaria amiga, tornando a tarde acolhedora para todos os participantes, em que ambas as partes receberam extensos benefícios publicitários.
Luta perpétua sob mal-entendido
Todavia, não é sem contratempos ou incidentes. Suzuki aponta que os pequenos teatros na Malásia tendem a adoptar uma gestão familiar, mas a sua personalidade enquanto empreendedora é mais voltada para os negócios, o que pode ter ofendido alguns colaboradores locais. Por outro lado, sendo uma mulher jovem e solteira vinda do exterior que conseguiu um certo sucesso num curto período de tempo, passou a ser retratada em mexericos como alguém que "faz negócios por baixo da mesa", o que a fez sentir que os seus esforços eram desvalorizados. Com o passar do tempo e a mudança das circunstâncias, hoje, durante a pandemia, Suzuki ainda não conseguiu voltar à Malásia, mas continua a manter as operações da empresa com parceiros locais através da internet. Em Macau, a sua criação e filmagem também nunca foram interrompidas, mantendo um diálogo intermitente entre Macau e a Malásia a vários níveis da cultura. Por detrás do seu sucesso, estão as suas lutas árduas e a dedicação de que os outros não se apercebem.
No que toca ao espaço de operação comercial da indústria do teatro em Macau, Suzuki considera que quem tem a vontade de fazer o negócio crescer precisa de, cumulativamente, ter uma mente aberta e de estabelecer contactos e que, só deste modo, se consegue oportunidades para sair de Macau. O comércio e a arte não são incompatíveis. Quando se pretende manter a qualidade artística, deve-se reconhecer que a gestão do teatro requer fundos. Em determinada medida, a comercialização é imprescindível, e as operações de marketing podem, justamente, ligar estes dois aspectos. No futuro, seguirá esta linha e criará o seu próprio modelo de teatro comercial.